domingo, 29 de maio de 2011

O início dos Tempos

Outro dia, aqui no Bar, apareceu um amigo sub de muitos anos. Muitos anos MESMO. Ele é tão velho, mas tão velho no BDSM, que é de um tempo tão remoto e precário que no início, só existiam os subs. Calcule um mundo somente com subs! Ninguém mandava em ninguém. Literalmente ninguém era de ninguém!
E era tamanha a algazarra, que logo surgiram os masoquistas, que curtiam o sofrimento daquela zona.
Mas ainda assim não estava bom, pois logo os masoquistas queriam mais do q o sofrimento de apenas um monte de subs falando, falando como seria bom se tivessem um Dono...
Foi então que surgiu o auto-flagelo. Eu sei que a Igreja Católica reivindica para si a invenção desta modalidade, mas a verdade é que ela é muito anterior ao cristianismo.
Com o auto-flagelo os masocas finalmente puderam sorrir. Mas se sentiam tão culpados por isso que se flagelavam ainda mais.
Aliás, isso me lembra uma amiga masoca, que é tão masoquista, mas tão masoquista que a coisa que ela mais gosta é acordar numa manhã de inverno bem cedinho e se atirar direto em baixo de uma ducha gelada. E ela gosta tanto disso, que não faz para se penitenciar.
Enfim, voltando aos masocas dos primeiros tempos, logo que produziam suas marcas, iam correndo exibí-las uns aos outros.
E dessa necessidade insaciável de se superar, surgiram as primeiras desavenças, disputas e fofocas do meio. Ao menos, foi dessa compulsão em se superar e ultrapassar o próximo que se inventou o espelho!
E também a célebre frase "A necessidade é mãe de todas as invenções".
Ainda segundo esse meu amigo, alguns masocas se tornaram tão bons na arte do auto-flagelo que passaram a ensinar seus amigos e amigas, e para isso, passaram a flagelá-los. Naturalmente daí nasceu o gosto pela coisa e surgiram os primeiros switchers!
Sim, é verdade, os switchers surgiram antes dos Sádicos. Mais ou menos como os primeiros répteis, que vieram das águas para se tornarem animais terrestres.
De outro lado, os subzinhos continuavam o seu penar sobre a terra. E então Uh! - o Todo Poderoso Pai do Universo - sobre O QUAL falaremos mais adiante nesse Bar - vendo tamanho sofrimento e desespero de sua criação, juntou a luz do Sol com o ferro do núcleo do planeta, o sal dos mares e a frieza impiedosa do gelo das mais altas montanhas e num sopro inspirador, criou o Dominador, em toda sua magnificiência.
E disse Uh! "Crescei e dominai todos os seres que nada te faltará! Levarás minha luz aos recânditos mais escuros e minha Palavra àqueles que não a tem!" E é por isso que até hoje a vela acesa é peça fundamental de uma sessão.
Foi assim que tudo começou, segundo esse meu amigo do Bar.

Leather Fetish X Ecologia

Dentre tantas discussões tão fundamentais ao BDSM que tenho acompanhado por aí, sem muitas das quais a própria atividade BDSM não seria possível - nem sequer imaginável - intriga-me sobremaneira a ausência do tema que ora coloco em pauta.
Justamente no momento em que vivemos, quando o Congresso Nacional vota o novo Código Florestal e nossa "presidenta" ameaça vetá-lo; quando o Aquecimento Global paira sobre nossas cabeças, como um jato da Air France, ameaçando desabar dos céus e tudo explodir; quando nos arrepiamos de culpa ao acender uma simples vela em nossa sessão, é nesse momento que é míster abrir a mais contundente das discussões:
Afinal Leather Fetishe é ou não anti-ecológico? (o que, aliás, remete-me imediatamente a outro debate possível: anti-ecológico, pela nova regra ortográfica, tem ou não o maldito hífem???)
Vocês fetichistas do couro já pararam para se perguntar afinal quantos bovinos deram suas vidas para alimentar a libido sua e de seu parceiro ou parceira?
Você já se preocupou, ao adquirir suas idumentárias e acessórios, se tais produtos têm origem certificada? Por acaso já lhe ocorreu que vários alqueires de floresta amazônica podem ter sido dizimados apenas para saciar sua lascívia?
Naturalmente os cínicos hão de dizer que isso não é problema que lhes afete, pois afinal de contas, nem sabem bem onde fica a Floresta Amazônica. E afinal de contas, couro é coisa que se compra em Shopping Center, no máximo em uma Sex Shop, que é o local mais próximo da vida selvagem em que já estiveram.
Mas posso dizer-lhes, meus amigos, que por trás de cada bota 7/8, de cada calça justa ou até mesmo de um simples relho, há sangue! Muito sangue de animais indefesos, e lucros abusivos de pecuaristas desumanos. Há florestas inteiras dizimadas, sem contar a situação trágica dos 'povos da floresta' como índios, seringueiros e sacis-pererês que vêem seu futuro ameaçado com o avanço das máquinas sobre seu habitat, apenas para saciar a devassidão dos amantes do couro!
E esses depravados não percebem que o couro usado na confecção de suas peças poderia nesse momento estar protegendo do frio uma criança necessitada, um menino de rua, que tem que recorrer à cola e ao crack simplesmente por que um grupo de fetichistas não liga para seu bem estar?
E pior! Quantas carros já tive que dirigir, sujeitando-me a tecidos comuns, que nem sequer chegam aos pés do conforto dos revestimentos de couro, simplesmente por que tal fetiche eleva os preços do material - sem trocadilho - à hora da morte?
Por todo o exposto, não vejo outra solução se não condenarmos de vez tal prática abusiva, segregando seus praticantes da mesma forma que fizemos com os fumantes, com os gays e com os moradores de Higienópolis! Vamos baní-los de nossa convivência, vamos jogar baldes de tinta sobre suas roupas e acessórios! Vamos ameaçá-los com lãmpadas fluorescentes e extintores de incêndio!
Por uma Amazônia preservada e internacionalizada! Por fetiches mais bem policiados! Por um BDSM mais consciente e vigiado!
O MOMENTO É AGORA!